Alta demanda leva clínica de transição a expandir após um ano de funcionamento
Em pouco mais de um ano de atividade, a Suntor Clínica de Transição, em Belo Horizonte, alcançou resultados que confirmam a necessidade crescente de serviços especializados em cuidados pós-hospitalares.
Nesse período, a instituição registrou mais de 9 mil atendimentos-dia e operou com média de 95% de ocupação, chegando a alcançar os 100% em determinados meses. O desempenho expressivo levou a diretoria a antecipar a estruturação de um plano de expansão que inclui tanto a abertura de uma nova unidade quanto a ampliação da estrutura já existente.
A clínica de transição, que hoje conta com 60 leitos ativos, aposta em um modelo de atendimento voltado para pacientes que necessitam de reabilitação clínica, recuperação pós-operatória e cuidados paliativos. Segundo o CEO Carlos Costa, a procura superou todas as expectativas iniciais e demonstrou que o setor de saúde demanda alternativas capazes de aliviar a pressão sobre os hospitais gerais. Ele destaca ainda que a Suntor vem alcançando indicadores importantes: taxa de readmissão inferior a 2%, redução do tempo de permanência em hospitais e sucesso em procedimentos que garantem menores taxas de eventos adversos pós-alta, além de maior autonomia e qualidade de vida aos pacientes, como o desmame de ventilação mecânica, de sondas alimentares e de traqueostomias.
Os planos de expansão envolvem não apenas novos leitos, mas também o fortalecimento do atendimento ambulatorial na clínica de transição. Entre as iniciativas anunciadas, está a criação do Pronto Amparo, disponível 24 horas por dia todos os dias da semana, para atendimento especializado para pacientes em cuidados paliativos e pacientes idosos com demandas clínicas de baixa e média complexidade não precisam mais ser direcionados a pronto atendimento de hospitais de alta complexidade, reforçando o caráter humanizado e multidisciplinar do trabalho da clínica. Visando a prevenção de hospitalização de pacientes portadores de lesões crônicas complexas, a Suntor lançou o Serviço de Terapia Hiperbárica, incorporado ao seu Centro de Tratamento Intensivo de Feridas Crônicas Complexas. Além, do Serviço de Toxina Botulínica, com foco em reabilitação de pacientes portadores de sequelas incapacitantes e condições crônicas, tem como objetivo auxiliar no controle da dor, na melhora funcional e na qualidade de vida dos pacientes, utilizando a toxina botulínica com indicações exclusivamente terapêuticas. Outro destaque é o credenciamento junto a mais de 30 operadoras de saúde, incluindo algumas das maiores do país, além das parcerias estabelecidas com hospitais que já encaminham pacientes para continuidade do cuidado em ambiente adequado.
Além do desempenho assistencial, a Suntor tem buscado consolidar sua posição institucionalmente. A clínica participa do programa Valora Minas, do governo estadual, e atua em articulação com o Ministério da Saúde, ANS e Anvisa para que o modelo de cuidado de transição seja incorporado de forma mais ampla ao sistema de saúde brasileiro. Para a direção, esse diálogo é fundamental para garantir que a expansão seja acompanhada de avanços regulatórios capazes de beneficiar todo o setor.
Com a nova fase de crescimento, a Suntor Clínica de Transição reforça sua missão de oferecer cuidados pós-hospitalares de excelência, unindo tecnologia, equipe especializada e atendimento humanizado. A expectativa é que a ampliação garanta maior acesso da população a serviços que já se mostraram decisivos para a recuperação e qualidade de vida de pacientes que necessitam de suporte após a alta hospitalar.
Além da cirurgia: o que o caso Faustão revela sobre a fase mais crítica do transplante
Quando um caso como o do apresentador Fausto Silva — submetido a transplantes de alta complexidade — chega ao noticiário, o foco costuma recair sobre a proeza cirúrgica. É natural que se celebrem os avanços e a precisão do procedimento. Mas, para quem vive a realidade de um transplante, o maior desafio começa depois: na volta para casa. É um momento silencioso, longe das câmeras, mas decisivo para o sucesso ou fracasso do tratamento.
Faustão ainda não recebeu alta, mas já foi extubado e, segundo a família, apresenta melhora. Sua recuperação não incluiu, até aqui, uma unidade de transição de cuidados, mas seu caso ilustra com clareza os obstáculos que esses centros buscam enfrentar. Assim como ele, milhares de pacientes no Brasil — foram 9.261 transplantes de órgãos sólidos realizados em 2024, segundo o Registro Brasileiro de Transplantes — enfrentam um período de alta vulnerabilidade após deixarem o ambiente hospitalar.
O risco é considerável: dados internacionais indicam que até 30% dos transplantados podem precisar de reinternação no primeiro mês pós-alta, e estudos nacionais mostram que essa taxa se mantém elevada durante todo o primeiro ano. Por mais cuidadosos e empenhados que sejam, paciente e família não possuem, sozinhos, a formação técnica necessária para lidar com essa fase. Entre o cuidado intensivo do hospital e a autonomia exigida em casa, há um vazio assistencial.
É justamente para preencher essa lacuna que existem as clínicas de transição: espaços intermediários que oferecem segurança e treinamento para a nova etapa. O foco deixa de ser apenas a recuperação física e passa a incluir a capacitação para o autocuidado.
Dentro dessas clínicas, a adaptação é prática e orientada:
- Farmacêuticos e enfermeiros transformam listas complexas de medicamentos em rotinas claras, explicando a função e a importância de cada dose.
- Fisioterapeutas elaboram programas de exercícios que devolvem força e confiança ao paciente.
- Nutricionistas adaptam as restrições médicas para cardápios viáveis e saborosos, ensinando preparo e higiene adequados.
- Médicos e equipe de enfermagem treinam o reconhecimento de sinais precoces de alerta — febre baixa, inchaço incomum — e a resposta imediata para evitar complicações graves.
O impacto é mensurável: programas de cuidado transicional podem reduzir em até 50% as chances de reinternação, diminuindo custos para o sistema de saúde e garantindo mais segurança ao paciente.
A medicina brasileira já realiza transplantes com excelência reconhecida. O caso Faustão lembra disso — mas também deixa claro que a vitória cirúrgica não encerra a batalha. O futuro da medicina de alta complexidade não está apenas em executar procedimentos de ponta, mas em construir pontes de cuidado que transformem o sucesso hospitalar em qualidade de vida duradoura.
O déficit crítico de cuidados pós-agudos no Brasil
A alta hospitalar deveria ser um momento de alívio e o início da fase final de recuperação. No entanto, para milhares de brasileiros e suas famílias, ela representa o começo de um período de incerteza, ansiedade e cuidados inadequados. O motivo é um gargalo estrutural e frequentemente ignorado no sistema de saúde do país: a carência de leitos e serviços de cuidados pós-agudos, também conhecidos como cuidados de transição.
Esses serviços são a ponte essencial entre a alta complexidade do hospital e o retorno seguro do paciente para casa. Englobam reabilitação intensiva, cuidados de enfermagem especializados e acompanhamento para pacientes que já não necessitam de um leito de UTI ou de internação convencional, mas ainda não estão prontos para a autonomia completa.
Uma análise de 2023, realizada com dados do Painel Anahp e da Global Health Intelligence, expõe a dimensão alarmante desse déficit e posiciona o Brasil em uma situação de extrema desvantagem no cenário internacional.
A realidade dos números
Os números que expõem essa lacuna servem como um alerta vermelho para a saúde brasileira. O levantamento revela uma estrutura precária ao comparar a oferta de leitos de cuidados pós-agudos em relação ao total de leitos hospitalares no país.
- No Brasil, existem apenas 11 leitos de cuidados pós-agudos para cada 1.000 leitos hospitalares.
Este número se torna ainda mais crítico quando confrontado com a realidade de outras nações:
- Nos EUA, a proporção é de 1.800 leitos para 1.000.
- Na Alemanha, a relação é de 330 para 1.000.
- O Canadá conta com 230 para 1.000.
- Até mesmo países como Portugal e Espanha apresentam taxas muito superiores, com 190/1.000 e 111/1.000, respectivamente.
Enquanto nações desenvolvidas consolidaram a transição de cuidados como uma etapa fundamental da jornada do paciente, o Brasil opera com uma infraestrutura quase inexistente, contando com apenas 4.696 leitos pós-agudos em um universo de mais de 427 mil leitos hospitalares.
As causas de um sistema interrompido
Esse abismo não surgiu por acaso. Ele é o sintoma de um modelo de saúde historicamente focado no tratamento da doença aguda, com pouca atenção e investimento na continuidade do cuidado. As principais causas incluem:
- Modelo de remuneração: o sistema de saúde, tanto público quanto privado, remunera majoritariamente por procedimentos e diárias em ambiente hospitalar agudo, desincentivando a criação de estruturas de menor complexidade e custo, como as unidades de transição.
- Cultura hospitalocêntrica: a saúde no Brasil ainda é centrada na figura do hospital. A desospitalização segura e bem planejada não é vista como uma prioridade estratégica.
- Falta de políticas públicas: há uma carência de políticas nacionais e de diretrizes claras que fomentem, regulem e financiem os cuidados de transição, deixando o setor em um limbo regulatório e de investimentos.
As graves consequências da inação
A falta de uma ponte segura entre o hospital e a casa gera um ciclo vicioso com impactos severos para todos os envolvidos:
- Para os pacientes: recebem altas precoces e sem o suporte necessário, resultando em piores desfechos clínicos, sequelas permanentes e uma queda drástica na qualidade de vida.
- Para os hospitais: sofrem com a “síndrome do leito bloqueado”, onde pacientes clinicamente estáveis continuam a ocupar leitos caros e de alta complexidade por falta de um local adequado para onde ir. Isso gera superlotação, aumenta os custos e eleva o risco de infecções hospitalares.
- Para o sistema de saúde: enfrenta taxas altíssimas de reinternação – muitas vezes por complicações que poderiam ser evitadas com reabilitação adequada. Estima-se que as reinternações custem bilhões ao SUS e à saúde suplementar anualmente.
- Para as famílias: a responsabilidade pelo cuidado recai sobre familiares, na maioria das vezes mulheres, que não possuem treinamento técnico, gerando sobrecarga física, emocional e financeira.
Caminhos para a mudança
Reverter esse cenário é urgente e exige uma ação coordenada. As soluções passam por:
- Mudança no modelo de remuneração: adotar modelos baseados em valor, que premiem o desfecho clínico e a recuperação do paciente, e não apenas a quantidade de procedimentos realizados.
- Criação de linhas de cuidado: desenvolver políticas públicas que integrem o cuidado agudo, a transição e o atendimento domiciliar (home care) em uma jornada fluida para o paciente.
- Incentivo a iniciativas: fomentar a criação de Unidades de Transição, como estruturas independentes, e fortalecer os serviços de atendimento domiciliar especializado.
O déficit brasileiro em cuidados pós-agudos é mais do que uma estatística; é um abismo silencioso que engole a qualidade de vida de pacientes, sobrecarrega famílias e drena recursos preciosos do sistema de saúde. Os dados são claros e o exemplo internacional mostra que outro caminho é possível. Ignorar este problema é condenar o Brasil a um sistema de saúde permanentemente congestionado, ineficiente e, acima de tudo, desumano com aqueles em seu momento de maior vulnerabilidade. A hora de construir essa ponte para o futuro do cuidado é agora.
Transição de cuidados em pauta: CAD 2025 destaca desafios regulatórios e segurança jurídica no setor
Nos dias 22 e 23 de maio, o Congresso de Atenção Domiciliar e Transição de Cuidados (CAD 2025) será palco de discussões importantes sobre os caminhos para uma transição segura e eficiente entre os diferentes níveis de cuidado em saúde.
Entre os destaques da programação, está a participação de Carlos Costa, CEO da Suntor, e Flávio Oliveira, Diretor de Inteligência de Negócio da Suntor, que trarão reflexões sobre a necessidade de maior clareza regulatória e segurança jurídica na transição de cuidados — uma etapa crítica para a continuidade da assistência, especialmente em modelos que integram hospitais, unidades de transição e atenção domiciliar.
Com base na experiência da Suntor em inovação e gestão em saúde, a palestra abordará os desafios para a regulamentação e segurança jurídica na transição de cuidados.
Além disso, o CAD 2025 contará com painéis sobre tecnologias emergentes, modelos de financiamento e o papel das unidades de transição na articulação entre alta hospitalar e cuidado continuado.
O evento reúne especialistas, gestores e formuladores de políticas públicas que estão construindo, na prática, o futuro da transição de cuidados no Brasil.
Saiba mais sobre o evento no site oficial da Hospitalar (hospitalar.com).
O desafio do envelhecimento: como as Clínicas de Transição podem transformar a saúde no Brasil
Com o aumento acelerado da população idosa, o Brasil enfrenta desafios significativos na área da saúde, destacando a importância das clínicas de transição para garantir cuidados adequados e sustentáveis.
Por Bruna Esteves
O Brasil está vivenciando um processo de envelhecimento populacional. Dados do Censo Demográfico de 2022 revelam que o número de pessoas com 65 anos ou mais cresceu 57,4% nos últimos 12 anos, passando de 14 milhões em 2010 para aproximadamente 22 milhões em 2022. Atualmente, os idosos representam 10,9% da população brasileira.
Projeções indicam que essa tendência continuará de forma acelerada. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que, em 2100, 40,3% dos brasileiros serão idosos, evidenciando a necessidade de adaptações estruturais nos sistemas de saúde e previdência.
Diante desse cenário, as clínicas de transição emergem como uma solução estratégica. Essas instituições funcionam como um elo entre o atendimento hospitalar e o cuidado domiciliar, oferecendo suporte especializado para pacientes que, embora clinicamente estáveis, ainda necessitam de acompanhamento intensivo antes de retornarem ao convívio familiar.
Nos últimos cinco anos, o setor de hospitais e clínicas de transição dobrou de tamanho no Brasil, refletindo seu papel crucial na otimização do sistema de saúde. Ao proporcionar reabilitação focada na recuperação de funcionalidades e redução da complexidade dos quadros clínicos, essas clínicas contribuem para a diminuição das taxas de reinternação hospitalar e promovem uma reintegração mais segura dos pacientes em suas rotinas.
A implementação e expansão das clínicas de transição são, portanto, medidas urgentes e essenciais para enfrentar os desafios impostos pelo envelhecimento populacional no Brasil. Investir nesse modelo de cuidado é garantir um futuro onde a longevidade seja acompanhada de qualidade de vida e sustentabilidade no atendimento à saúde.
Cuidados personalizados no preparo para o retorno ao lar
Além de oferecer cuidados especializados, as clínicas de transição desempenham um papel fundamental na educação e preparação dos familiares para o cuidado domiciliar. Após internações prolongadas, muitos pacientes apresentam sequelas cognitivas ou físico-funcionais que demandam adaptações no ambiente doméstico e na rotina familiar. As clínicas de transição fornecem suporte e orientação para que a transição do hospital para o lar ocorra de maneira segura e eficaz, minimizando riscos de complicações e readmissões hospitalares.
No entanto, para que essas clínicas cumpram plenamente seu papel, é necessário um investimento contínuo em infraestrutura e capacitação profissional. A formação de equipes multidisciplinares, compostas por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros especialistas, é essencial para garantir um atendimento integral e de qualidade aos idosos. Além disso, políticas públicas que incentivem a expansão e o acesso a essas unidades são fundamentais para atender à crescente demanda gerada pelo envelhecimento populacional no Brasil.