Além da cirurgia: o que o caso Faustão revela sobre a fase mais crítica do transplante

Por Marketing RPT

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18.08.2025 às 11h48m

Quando um caso como o do apresentador Fausto Silva — submetido a transplantes de alta complexidade — chega ao noticiário, o foco costuma recair sobre a proeza cirúrgica. É natural que se celebrem os avanços e a precisão do procedimento. Mas, para quem vive a realidade de um transplante, o maior desafio começa depois: na volta para casa. É um momento silencioso, longe das câmeras, mas decisivo para o sucesso ou fracasso do tratamento.

Faustão ainda não recebeu alta, mas já foi extubado e, segundo a família, apresenta melhora. Sua recuperação não incluiu, até aqui, uma unidade de transição de cuidados, mas seu caso ilustra com clareza os obstáculos que esses centros buscam enfrentar. Assim como ele, milhares de pacientes no Brasil — foram 9.261 transplantes de órgãos sólidos realizados em 2024, segundo o Registro Brasileiro de Transplantes — enfrentam um período de alta vulnerabilidade após deixarem o ambiente hospitalar.

O risco é considerável: dados internacionais indicam que até 30% dos transplantados podem precisar de reinternação no primeiro mês pós-alta, e estudos nacionais mostram que essa taxa se mantém elevada durante todo o primeiro ano. Por mais cuidadosos e empenhados que sejam, paciente e família não possuem, sozinhos, a formação técnica necessária para lidar com essa fase. Entre o cuidado intensivo do hospital e a autonomia exigida em casa, há um vazio assistencial.

É justamente para preencher essa lacuna que existem as clínicas de transição: espaços intermediários que oferecem segurança e treinamento para a nova etapa. O foco deixa de ser apenas a recuperação física e passa a incluir a capacitação para o autocuidado.

Dentro dessas clínicas, a adaptação é prática e orientada:

  • Farmacêuticos e enfermeiros transformam listas complexas de medicamentos em rotinas claras, explicando a função e a importância de cada dose.

  • Fisioterapeutas elaboram programas de exercícios que devolvem força e confiança ao paciente.

  • Nutricionistas adaptam as restrições médicas para cardápios viáveis e saborosos, ensinando preparo e higiene adequados.

  • Médicos e equipe de enfermagem treinam o reconhecimento de sinais precoces de alerta — febre baixa, inchaço incomum — e a resposta imediata para evitar complicações graves.

O impacto é mensurável: programas de cuidado transicional podem reduzir em até 50% as chances de reinternação, diminuindo custos para o sistema de saúde e garantindo mais segurança ao paciente.

A medicina brasileira já realiza transplantes com excelência reconhecida. O caso Faustão lembra disso — mas também deixa claro que a vitória cirúrgica não encerra a batalha. O futuro da medicina de alta complexidade não está apenas em executar procedimentos de ponta, mas em construir pontes de cuidado que transformem o sucesso hospitalar em qualidade de vida duradoura.

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